segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Meio Ambiente e Pecuária Leiteira em Rondônia (o exemplo da microrregião Ji-Paraná)


2012







[MEIO AMBIENTE E PECUÁRIA LEITEIRA EM RONDÔNIA (o exemplo da microrregião Ji-Paraná)]
            A prática da pecuária é desenvolvida em regiões com diversidade natural de grande relevância, podendo citar os domínios  vegetais, os solos, os domínios climáticos e classificação topográfica. Há também forte influencia do ambiente sócio econômico, o que possibilita o aumento ou não da produtividade mediante uso de técnicas ou tecnologias.



Sumário



1 – Introdução..........................................................................................................
2 - Os aspectos ambientais e suas influências na pecuária .......................
3 - Os aspectos sócios econômicos e o desenvolvimento da pecuária
      na microrregião de Ji-Paraná ........................................................................
5 – Conclusão .......................................................................................................... 
4 – Bibliografia ......................................................................................................... 




MEIO AMBIENTE E PECUÁRIA LEITEIRA EM RONDÔNIA (o exemplo da microrregião Ji-Paraná)
                                                                                                                              Gilberto Stein Junior* 
            A prática da pecuária é classificada através do sistema extensivo e intensivo, sendo desenvolvida em regiões com diversidade ambiental de grande relevância, destacando os domínios vegetais, os solos e seus componentes, os domínios climáticos e classificação topográfica.
            As diversas influências técnicas oriundas de estados das regiões sul, sudeste e nordeste estabelecem práticas com maior ou menor produtividade, melhoria ou não da genética e possibilita a criação de barreiras à prática de um sistema técnico-científico global. A forte influência do senso comum em regiões com pequeno apoio técnico tem permitido que a prática da pecuária destinada ao abate se estabeleça de maneira imperativa, fortalecendo o conceito de formação latifundiária e se adequando aos ideais políticos de um novo código florestal.
            O diferencial econômico existente entre o pequeno e grande produtor é estabelecido entre senso comum, comunidade tecno-científica e setores econômicos.

Palavras chave: pecuária, ambiental, econômico e global.

______________________________
*Licenciado em geografia pela UFMG; professor do ensino fundamental e médio na rede estadual de educação em Rondônia.



            Introdução

            A pecuária é definida como a prática de criar animais domesticados, abrangendo o processo de criação de bovinos, suínos, ovinos, caprinos e bubalinos, sendo exercitada em pequena, média ou grande escala. A prática extensiva faz uso de técnicas rudimentares obtendo baixa produtividade destinada ao consumo familiar e comercial quando há excedente ou para fins de especulação imobiliária ou de capital. Quanto à prática intensiva, seu objetivo é a aplicação de técnicas modernas obtendo bons resultados, exceto quando ocorrem os azares climáticos, tais resultados geralmente são destinados aos setores industrial (bens de consumo não duráveis) e comercial. (consumidor final – restaurante, feiras, supermercados e população)
            Para o desenvolvimento da atividade pecuária faz-se necessário um levantamento de informações dos aspectos ambientais, sociais, políticos e econômicos.

           Os aspectos ambientais e suas influências na pecuária.

            Sobre o quadro natural regional observa-se grande diversidade, podendo classificar a vegetação como floresta ombrófila densa, floresta ombrófila aberta, floresta estacional semidecidual tropical, cerrado e áreas de transição. Na região centro-leste do estado, observa-se a presença de vegetação campestre associada ao cerrado, também conceituada vegetação de transição, floresta ombrófila e mata ciliar.
            Caracterizando os domínios vegetais observa-se: formação de florestas (árvores de pequeno, médio e grande porte, variando entre quatro e cinqüenta metros de altura), floresta ombrófila (vegetação arbórea típica de regiões chuvosas), floresta estacional semidecidual (vegetação arbórea apresentando-se em determinados períodos recoberta por folhagem geralmente esverdeada e no período de estiagem torna-se uma vegetação caducifólia – perda total da cobertura vegetal), cerrado (vegetação com tamanho diversificado, apresentando plantas rasteiras (gramíneas), arbustivas (plantas com muitos galhos, retorcidas, casca grossa e poucas folhas, com altura entre cinquenta centímetros e dois metros) e arbóreas (árvores com troncos retorcidos, casca grossa, muitos galhos e poucas folhas) geralmente apresentam raízes profundas (devido a deficiência hídrica) e durante os meses de estiagem a folhagem passa de um tom esverdeado para amarelado, tornando-se uma vegetação ressequida com aspecto de plantas sem vida).
            As atuais áreas de cerrado e de vegetação de transição são fortemente exploradas pela pecuária extensiva, onde os animais são criados soltos, aproveitando a vegetação natural sem a necessidade da prática do desmatamento. Nas áreas de cobertura vegetal do tipo floresta, ocorreu um intenso desmatamento, sendo transformadas em pastagens artificiais.
            Os solos da região em destaque apresentam pequena diversidade, podendo considerá-los pobres ou de pouca fertilidade, principalmente os que apresentam carência de cálcio, potássio, nitrogênio ou outro nutriente importante para as plantas. Tal conceito é relativo, pois atualmente é possível tornar fértil um solo pobre com a utilização de modernas tecnologias, sendo o uso inadequado alvo passível de empobrecimento da área que pode também iniciar um processo de desertificação.
            A maior parte dos solos férteis localiza-se ao longo do eixo da rodovia BR-364. De acordo com LIMA (1997)¹:
...algo em torno de 80% (oitenta por cento) da área estadual serve para atividades agropastoris; 25% (vinte e cinco por cento) não apresentam limitações para uso; 15% (quinze por cento) possuem ligeira limitação de uso devido a possível ação erosiva; 38% (trinta e oito por cento) apresentam limitações ao uso por estarem muito expostos a ação do tempo; e 6% (seis por cento) são aptos a prática da pecuária.

            Constatam-se dois grandes domínios de solos na porção centro-leste do estado:
- solos argilosos de mediana profundidade, ricos em minerais ferromagnesianos ocorrendo nas porções do latossolo vermelho e amarelo entre os municípios de Ouro Preto e Ariquemes;
- solos podzólicos vermelho amarelado de pouca profundidade, classificados como arenoso na superfície e argiloso na porção inferior, ocorrendo a formação de cascalhos desde a nascente do rio Ji-Paraná no município de Pimenta Bueno até sua foz no rio Madeira após a cidade de Porto Velho.
            A prática da pecuária intensiva possibilita a conservação dos solos, pois geralmente ocorre uma rotatividade de animais dentro de um espaço restrito, permitindo o cultivo de pastagens diversificadas com algumas espécies arbóreas e até mesmo o desenvolvimento de capineiras (algumas espécies de cana-de-açúcar destinadas a bovinos ou bubalinos). Os animais também podem ficar confinados por um período maior, recebendo alimentação em superfícies adequadas. Quanto à prática extensiva constata-se que, um número menor de animais por hectare pode levar a uma conservação do solo e posterior adubação natural com a decomposição do estrume dos animais. Quando ocorre uma intensificação de animais por hectare, pode ocorrer um processo de compactação do solo por pisoteio, o que pode levar a um processo de desmineralização, aridez e consequentemente, em longo prazo, a desertificação da área, como tem ocorrido no Rio Grande do Sul.
            Os domínios climáticos da região são equatorial e tropical, podendo constatar em alguns anos a friagem, fenômeno que ocorre geralmente no mês de julho, com a passagem da massa de ar polar atlântica.
            O clima equatorial é marcado pelas elevadas temperaturas durante todo o ano (entre 25° e 40° C) e chuvas distribuídas entre os meses de outubro e maio (média de 2500 mm), sendo que, de maio a outubro ocorre o período de estiagem (média de 250 mm). O clima tropical apresenta verões quentes (entre 20° e 30°C) e chuvosos (média de 1700 mm), os invernos deveriam ser brandos e secos, porém as baixas latitudes e a forte influência do clima equatorial faz com que as temperaturas oscilem acima de 20º C. Quando ocorre o fenômeno friagem, as baixas altitudes no interior do estado permitem a passagem da massa polar atlântica, provocando quedas de temperatura abruptas (exemplo: de 25º C para 13º C).
            Estes domínios climáticos não são favoráveis ao desenvolvimento de um plantel com animais típicos das regiões sul e sudeste (raça holandesa), porém observa-se em grande escala criações de animais girolando (cruzamento das raças gir com holandês) e gir leiteiro, que se adaptam as condições climáticas do estado.
            Na porção centro-leste do estado localiza-se uma extensa área de planaltos residuais sul-amazônicos, formados na era geológica arqueozoica, sendo sua constituição superficial associada aos sedimentos oriundos da decomposição do planalto mato-grossense, das chapadas dos Pacaás Novos e dos Parecis, dos inselbergs, dos morros isolados e algumas cristas regionais. Na região também são encontrados afloramentos graníticos, lateritos e matacões de tamanhos diversos. As superfícies aplainadas apresentam rochas sedimentares do pleistoceno, resultantes da ação erosiva ocorridas em períodos geológicos anteriores, o que possibilita a presença de um clima seco com escassa cobertura vegetal. Localizam-se nesta porção do relevo, alguns lajeados e cachoeiras que afloram no médio curso do rio Ji-Paraná (Dois de novembro, São Vicente, Quatro de março, São Francisco, Tabajara e Quatá). Nas proximidades com o estado do Mato Grosso localizam-se as serras São João e Machado, divisores das bacias hidrográficas dos rios Ji-Paraná (Machado) e Roosevelt. De acordo com LIMA ², a chapada dos Pacaás Novos também é um divisor de águas das bacias Ji-Paraná e Roosevelt.
            Um importante fator para alteração do modelado na superfície é a ação de agentes externos (influenciado pelo tempo – tendo como elementos básicos o vento, a temperatura e a umidade) que ocasionam o intemperismo e a erosão. O intemperismo pode ser físico, químico ou biológico, retratando-se como processo lento que pode durar meses ou anos. O fenômeno físico ou mecânico é provocado principalmente pela variação de temperatura que pode ocorrer num mesmo dia ou no transcorrer de um ano ou mais. O fenômeno químico é ocasionado pela ação da água que desagrega os minerais compostos numa superfície rochosa, podendo iniciar o processo de formação do solo superficial. O intemperismo biológico é ocasionado pela ação de decomposição das rochas através da atividade de seres vivos (animais, vegetais, fungos, bactérias e insetos). O processo erosivo está relacionado diretamente com a ação do tempo em curto período, sendo também caracterizado pelas alterações climáticas de determinadas áreas.

            Os aspectos sócios econômicos e o desenvolvimento da pecuária na microrregião de Ji-Paraná

            Com o forte fluxo migratório das regiões sul, sudeste, nordeste e centro-oeste para o estado, através dos incentivos governamentais e da política de povoar o interior do Brasil para que ocorresse o crescimento seguido do desenvolvimento, muitas famílias se deslocaram para o estado. Classifica-se o processo migratório em diferentes períodos, iniciando com a exploração da borracha, através do curso do rio Madeira. Neste contexto, destaca-se a ocupação de um dos afluentes do rio Madeira, o rio Ji-Paraná, sendo as primeiras ocupações datadas do final do século XIX e início do século XX. Devido ao grave contrabando de sementes de seringueiras para o sudeste asiático, o preço da borracha sofre grande desvalorização. Com o advento da 2ª. Guerra Mundial, o preço da borracha é fomentado pela indústria bélica e apresenta nova valorização, favorecendo outro grande impulso migratório, tratando os seringueiros como ‘soldados da borracha’, principalmente os migrantes nordestinos. Terminada a 2ª. Guerra Mundial ocorre uma grande redução pela procura da borracha de origem amazônica, surgindo uma nova atividade econômica, o garimpo. Esta atividade, juntamente com a política de integração e ocupação da Amazônia, promovem a construção da rodovia Brasília / Acre, considerando o fato de que nunca houve o interesse político para a instalação de uma ferrovia.  O surgimento da linha telegráfica Mato Grosso / Amazonas também é responsável pelo surgimento de alguns núcleos urbanos, que atualmente acompanham a rodovia federal BR-364. Os incentivos governamentais para a saída das regiões sul e sudeste estavam relacionados a falsa promessa de terras férteis e linhas de crédito para promover o desmatamento e implantar uma atividade agropastoril produtiva. As longas viagens dos migrantes sulistas para o Estado chegavam há durar trinta dias em um pau-de-arara³ e, às vezes, vinte dias, quando esta era realizada num ônibus vinculado ao setor político administrativo. Após a chegada nas áreas de destino como é o caso de Ji-Paraná, muitos migrantes eram deixados em locais organizados pelo INCRA ou pelas COMPANHIAS DE COLONIZAÇÃO, (exemplo da Companhia Calama) com o objetivo de receber as terras prometidas. A ocupação do estado estava sendo realizada de maneira desordenada, gerando conflitos entre povos indígenas, seringueiros e os diferentes grupos de migrantes relacionados a posse da terra e a ação de especuladores organizados em empresas particulares, sem amparo legal, loteando e vendendo áreas de reservas ou da União para os migrantes. O crescente número de migrantes promoveu o desenvolvimento de nova estratégia fundiária para a colonização, atribuindo grande competência ao INCRA, que promoveu uma colonização oficial, instalando estrategicamente em diferentes pontos novas frentes de trabalho, permitindo a regulamentação do processo de ocupação do Estado, dando acesso a terra aqueles que realmente a procuravam e tinham por objetivo o crescimento sócio-econômico em equidade com a política governamental de expansão agrícola. Os lotes para assentamento eram de 50, 100 e até 300 hectares.
Um importante fator que contribuiu para o processo migratório para o estado de Rondônia foi a modernização no campo nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, substituindo as tradicionais práticas de cultivo de café por plantações mecanizadas de soja, trigo e cana-de-açúcar, em larga escala, reduzindo a quantidade de mão-de-obra necessária e forçando sua emigração. O governo também viu nas regiões de fronteira uma forma de reduzir o êxodo rural-urbano e ocupá-las impedindo a ação estrangeira, uma vez que já estavam sendo ocupadas. A qualidade do solo de Rondônia em algumas regiões e sua adequação à agricultura, conforme estudos preliminares, e a descoberta de reservas madeireira de alto valor econômico como mogno, cerejeira, cedro-rosa, etc., também contribuíram, sobremaneira, no processo de ocupação.

Este processo se deu de forma desordenada, de 1970 a 1980, o número de proprietários de terra passou de 7 mil para 50 mil e em 1985, chegou a 81 mil propriedades (OLIVEIRA).
            Um exemplo de ocupação na região de Ji-Paraná é o Projeto de Assentamento ITAPIREMA, criado através da Portaria/P/Nº 553 de 09 de julho de 1987, objetivando assentamento de 211 (duzentos e onze) famílias de trabalhadores rurais em parte do imóvel rural denominado Gleba PYRINEOS, objeto de desapropriação por interesse social, com uma área de 6.345 há (seis mil, trezentos e quarenta e cinco hectares), apresenta em sua estrutura algumas ocupações com várias dimensões constituindo alguns minifúndios, cujo aspecto fundiário impõe a consolidação da situação encontrada. De acordo com informações do INCRA:
...a área apresenta fertilidade regular dos solos, favoráveis condições climáticas, de relevo e hidrográfica, bem como localização privilegiada, estando adjacente à sede do município, segundo centro urbano mais desenvolvido do Estado, onde o mercado imobiliário registra os maiores valores na comercialização de imóveis rurais. Entre as famílias ocupantes da área, a maioria ostenta mais de uma década de posse, cujo início ocorreu quando a empresa CALAMA S.A. (colonizadora particular, autorizada a comercializar os terrenos pelo governo federal) se quer havia escriturado alguns dos imóveis de todo o título PYRINEOS. A área foi cenário de elevada tensão social pela disputa de suas terras, onde litigavam de um lado, o proprietário e de outro os ocupantes, quando atos de violência praticados pelas partes, por certa vez, causou vítimas com lesões corporais, principalmente pelo lado dos ocupantes, resultante da ação policial. Quanto aos aspectos econômicos desta área, verifica-se que a maioria dos ocupantes residentes no imóvel, cultivam culturas tradicionais de subsistência (arroz, milho, feijão e mandioca) e já implementaram culturas permanentes de considerável valor. Os lotes que tem dimensão abaixo da fração mínima de parcelamento dedicam-se a exploração de culturas hortifrutigranjeira, inclusive com uma produção considerável que abastece o mercado consumidor urbano, participando também no abastecimento da capital do estado Um fator marcante é a organização e participação dos beneficiários do projeto que também comercializam os produtos em uma feira agrícola.

De acordo com dados do IBGE (2007), o crescimento populacional de Rondônia ocorre entre 1950 com população estimada em 36.935 habitantes, em 1960 a população soma um total de 69.792, em 1970 um total de 111.064 habitantes, em 1980 um total de 491.025 habitantes (aumentando 16,03%), em 1991 um total de 1.130.874 habitantes, em 2000 um total de 1.377.792 habitantes e 2005 um total de 1.534.584 habitantes.
            Para o INCRA, o governo, ao desapropriar um imóvel, destinando-o para fins de Reforma Agrária, tem por objetivo ordenar a ocupação e gerar paz social, proporcionando progresso social e econômico dos que nele residem. Todavia, no que diz respeito à modalidade ocupacional existente, torna-se impraticável promover alterações de maior relevância no dimensionamento dos imóveis, visto que tal medida tende a confundir e / ou provocar conflitos contrariando os objetivos precípuos do Plano Nacional de Reforma Agrária. É também da iniciativa do INCRA, firmar entendimento com os beneficiários, onde os mesmos devem estar de pleno e irrestrito acordo com o processo de pacificação. Além de considerar pontos tais como, localização, valorização e necessidade de sanar conflitos de ordem social, o órgão federal acredita que os beneficiados devem dar continuidade em suas atividades produtivas, visando não apenas a melhoria e qualificação da força de trabalho, mas também o desenvolvimento dos membros ativos do conjunto familiar que buscam, além da subsistência, o progresso social e econômico, apesar da forte influência das importações do centro sul do país.
            Com a chegada de um grande número de migrantes para o estado, (fato observado até os dias atuais) ocorre um intenso crescimento econômico vinculado ao eixo da rodovia BR-364 de integração nacional, possibilitando o escoamento de recursos minerais como a cassiterita, mas também a importação de bens de capital e bens de consumo não duráveis para o desenvolvimento do setor de indústrias e comércio.
Ao se constituírem os projetos de colonização agrícola como principal atrativo de ocupação de Rondônia, o resultado foi a comercialização de produtos agrícolas e a prestação de serviços para a população rural pelas pequenas cidades. Além disso, a urbanização esteve vinculada ao crescimento da atividade industrial, seja de domínio da economia formal, seja da informal.
            Considerando a trajetória de criação e crescimento do estado de Rondônia pode-se avaliar que a taxa de crescimento populacional e a emergente necessidade de geração de fontes de subsistência, levou a população imigrante a optar pela alternativa mais evidente que era abertura de áreas nativas para a agricultura e a pecuária, o que em função das condições de fatores e preços de oportunidade, favorecem a expansão da criação do gado bovino e, consequentemente, a produção leiteira e, ainda, a instalação de indústrias processadoras do leite. No entanto, a não sistematização ou a falta de assistência técnica e implementação de políticas públicas e, além disso, a velocidade do crescimento dessa atividade, não favorecem a organização e o desenvolvimento de um arranjo para produção regional de leite em Rondônia.
O potencial agropecuário do estado é favorecido com a vasta extensão de terras e clima quente, o que leva os detentores de propriedades rurais a investirem na pecuária, isso leva a maior produção de leite, a qual se constitui na principal fonte de renda para o pequeno produtor rural, representando sua subsistência.
O estado de Rondônia possui 52 Municípios e uma população de 1.534.584 habitantes e a atividade leiteira exerce função de suma importância na economia. O setor agropecuário e a indústria de transformação deste segmento representam a base econômica e despontam como fortes contribuintes de sustentabilidade (SEAPES, 2006).
A produção de leite no estado vem apresentando grande evolução nos últimos anos, fato que se verifica nos dados a seguir.

Produção brasileira de leite cru (milhões de litros)
                                                                        Produção de leite   mil  litros / dia    
Estados e Brasil                                         1969    1980     1990     2000      2005  
1 Minas Gerais                                         6.438   8.816  11.756  16.068    18.926
2 Goiás                                                      1.058    2.507    2.937    6.011     7.255
3 Paraná                                                    1.247    2.178    3.178    4.929     7.036
4 Rio Grande do Sul                                 1.786    3.389    3.978    5.759     6.762
5 São Paulo                                               3.786    5.052    5.373    5.099     4.778
9 Rondônia                                                      0        90       433    1.156     1.896  
Brasil                                                       19.159   30.581  39.718  54.156  67.455 
Fonte: BRASIL (1973-1999); EMBRAPA(2007).

Após a década de 90 é possível verificar o surgimento de algumas regiões no estado que se tornaram bacias leiteiras, é o exemplo de Ouro Preto do Oeste, onde se encontram animais cuja produção diária ultrapassa os vinte litros. Em relação à variação anual da produção leiteira, a microrregião de Ji-Paraná, em Rondônia, encontra-se entre os cinquenta maiores produtores do Brasil, sendo registrada uma variação anual no período compreendido entre os anos de 2000 a 2005, de 102 mil litros/dia. O pequeno agricultor pode ter seu rebanho melhorado geneticamente e, com isso, aumentar a renda familiar, além de melhorar as pastagens, poder realizar análise de solo, adequação solo / pastagem, cultivar capineiras com espécies apropriadas de cana-de-açúcar destinada ao gado leiteiro, criar animais em sistema de confinamento, através de ações governamentais como o Programa de Melhoria da Qualidade e Produtividade do Leite (PROLEITE), implementado pela Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Regularização Fundiária (SEAGRI) e executado pela EMATER-RO.
  
Principais microrregiões geográficas brasileiras na produção de leite e variação anual da produção, 2000-2005.
microrregião                           variação anual                                              
                                          2000                     2005    (mil litros/ dia)            
PR - Toledo                         695                1.080              77
RO - Ji-Paraná                   551                1.063            102
GO - Meia Ponte                887                 1.022              27
SC - Chapecó                    459                    972             103
MG - Frutal                         79                    929             170
Total                              4.672                 7.072             480                          
% Brasil                            8,6                  10,5                                              
Fonte: EMBRAPA (2007).

Observando os dados a seguir, sobre as microrregiões do Estado de Rondônia, constata-se que Ji-Paraná é a maior produtora do estado de Rondônia.

Microrregiões rondonienses, produção de leite e variação anual da produção, 2000-2005.
microrregião                                      variação anual                                                                
                                                           2000                2005   (mil litros/ dia)
1 Ji-Paraná                                       551               1.065             103
2 Ariquemes                                        66                   203              27
3 Alvorada do Oeste                           77                   183              21
4 Porto Velho                                     62                   179               23
5 Cacoal                                           232                  142              -18
6 Vilhena                                            57                    64                  2
7 Colorado do Oeste                       100                    46                -11
8 Guajará-Mirim                                12                    15                   1                                             

        Fonte: EMBRAPA (2007).


Sobre a distribuição do gado leiteiro do estado observa-se grande concentração nos municípios de Jaru, Ouro Preto do Oeste e Ji-Paraná.

Municípios com maior rebanho de gado leiteiro em Rondônia             
Município                                           2004                           2005            
Jaru                                                   288.827                     317.697
Ouro Preto do Oeste                         259.043                     267.501
Ji-Paraná                                         192.639                     200.569
Gov. Jorge Teixeira                           125.428                     146.726
Presidente Médici                             111.950                     135.757
Vale do Paraíso                                128.266                     128.390
Alvorada do Oeste                           141.016                     125.363              
Fonte: EMATER (2006).

 O município de Ji-Paraná possui o terceiro maior rebanho de gado leiteiro do estado, é o terceiro em produção e o quadragésimo quarto do Brasil em produção de leite, de acordo com os dados abaixo.

           Principais municípios rondonienses na produção de leite, 2005.               
    Município                                          microrregião     produção 2005(mil l/ dia)
UF      BR                                                                
1          11 Jaru                                            Ji-Paraná                  206
2          15 Ouro Preto do Oeste                 Ji-Paraná                  194
3          44 Ji-Paraná                                Ji-Paraná                  114
4          55 Governador Jorge Teixeira        Ji-Paraná                   104
5          80 Nova Mamoré                          Porto Velho                89
6          86 Urupá                                       Ji-Paraná                    87                               
                                                                                              Fonte: EMATER (2006).

De acordo com os dados citados, além do município de Ji-Paraná, destacam-se outros municípios, tais como, Jaru, Ouro Preto D’Oeste, Presidente Médice, Urupá e Alvorada do Oeste entre outros.
A economia de Ji-Paraná, município central, é representada por atividades agrícola, pecuária, industrial (beneficiamento e transformação), extrativa (madeira, borracha, castanha do Pará, etc.), além do comércio e prestação de serviços. O município possui um comércio diversificado, contando com 2.435 estabelecimentos, sendo 304 atacadistas e 2.131 varejistas, conforme a Secretaria Municipal de Agricultura (SEMAGRI-2009). O poder público tende a desenvolver projetos para a economia do município, esses projetos visam oferecer empregos para as famílias de baixa renda, a fim de melhorar a qualidade de vida da população. Conforme informações do Grupo de Coordenação de Estatística Agropecuária – GCER/RO, a região de Ji-Paraná mantém uma participação importante no Estado, destacando-se a prática da pecuária extensiva ou intensiva quer pela qualidade das terras quer pelo incentivo governamental.

Conclusão

No que se refere à infraestrutura científica tecnológica, a região caracteriza-se como típica de países em desenvolvimento, contando com uma escola técnica integrada ao segundo grau (IFRO – Instituto Federal de Educação e Tecnologia de Rondônia) e cursos profissionalizantes regulares. A infraestrutura institucional local compõe-se de associações e sindicatos de produtores rurais, industriais e de empregados com presença nos municípios. No entanto, não se constata registros de cooperativas de produção ativas em todos eles, somente as chamadas de crédito rural (agências bancárias). Existem duas universidades, a Universidade Federal de Rondônia - UNIR e a Universidade Luterana do Brasil - ULBRA (rede de ensino privada), com ofertas de cursos de agronomia e veterinária, e três organizações que são classificadas como instituto de pesquisa – a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) a CEPLAC (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira) e o IDARON (Instituto de Defesa Agropecuária de Rondônia) tendo também três centros de capacitação profissional, o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio ao Empresário) o SENAC (Serviço Nacional do Comércio) e o SENAI (Serviço Nacional da Indústria); não sendo registradas instituições de testes, ensaios e certificações. Quanto à infraestrutura da área em estudo, as rodovias também chamadas de estradas vicinais, precisam de melhorias. A questão energética no campo apresenta-se em processo de expansão, podendo mencionar o polo energético em processo de instalação na região de Porto Velho. Torna-se evidente que o processo de desenvolvimento da pecuária leiteira necessita de maior apoio das instituições que prezam o desenvolvimento técnico e científico.

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